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Falta de contêineres vira entrave para exportações
14/06/2021
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O deslocamento da oferta de contêineres para os continentes europeu e asiático, assim como para os Estado Unidos, tem provocado uma carência desses equipamentos logísticos no Brasil, o que inclui o Rio Grande do Sul. Se o cenário não se estabilizar em breve, a preocupação é que o fluxo de exportações a partir do Estado seja afetado.
Entre os setores da economia gaúcha que já sentem os efeitos negativos da situação está o avícola. O presidente executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, informa que a dificuldade vem sendo verificada desde o final do ano passado. “Aquelas indústrias que não têm uma grande estrutura de logística, não têm filiais em outros países, sofrem muito porque ficam nas mãos dos armadores (proprietários das embarcações), dos navios que carregam os contêineres”, frisa o dirigente.
Santos enfatiza que o segmento avícola trabalha com planejamento e possui tipos de produtos e cortes específicos para cada país, o que torna complicado redirecionar a mercadoria destinada ao exterior para o mercado interno. Além disso, o integrante da Asgav destaca que a questão gera custos extras, como o pagamento de taxas de armazenagem.
Caso o problema continue, ele calcula que poderá afetar em mais da metade o fluxo de exportações de frango a partir do Rio Grande do Sul (o setor avícola gaúcho exporta em média 60 mil toneladas de carne de frango por mês). Santos defende que o papel dos governos estaduais e federal é buscar estabelecer uma política com os armadores que torne atrativa a oferta de contêineres no País.
Já o diretor-presidente do Terminal de Contêineres (Tecon) Rio Grande, Paulo Bertinetti, admite que tanto o Rio Grande do Sul como os outros estados do Brasil estão verificando falta de contêineres, devido ao fato de os armadores preferirem direcioná-los para locais que apresentam maiores demandas.
“Hoje, está tendo um congestionamento generalizado, os portos americanos e europeus estão congestionados e os chineses estão uma loucura”, reforça o executivo.
Bertinetti acrescenta que, comparado a esses outros mercados, o Brasil, que movimenta menos de 15 milhões de TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) por ano, representa um volume pequeno.
Esse panorama global, acrescenta o diretor-presidente do Tecon, fez o custo do frete marítimo disparar. Ele cita que um contêiner, para fazer o trajeto entre a China e os portos brasileiros, custa atualmente algo entre US$ 10 mil a US$ 15 mil.
Desequilíbrio entre recebimento e envio de cargas dificulta operação
A característica do Rio Grande do Sul ser mais exportador do que importador representa um contratempo logístico local. Como o Estado tem um volume de remessas maior do que de entregas, é preciso trazer contêineres vazios para o Tecon Rio Grande (que concentra a movimentação gaúcha de TEUs) para atender à demanda de envio de cargas para o exterior, o que não é a melhor equação financeira em uma operação de transporte (o ideal seria chegar um contêiner cheio, que pudesse também sair do porto com carga completa).
“No Rio Grande do Sul a importação é baixa, então precisamos de um reposicionamento de contêineres vazios, e não é o momento propício para isso, porque os fretes na Ásia estão muito altos e o armador prefere levar o vazio para lá”, reforça o diretor-presidente do Tecon Rio Grande, Paulo Bertinetti. Ele ressalta ainda que o Estado enfrenta a concorrência dos terminais de Santa Catarina, que possuem muitos armadores como investidores, o que acaba gerando um desequilíbrio competitivo.
Para o executivo, o que pode melhorar a condição dos portos gaúchos é a indústria do Rio Grande do Sul crescer em volumes de exportação, mas também de importação. Apesar da dificuldade com a falta de contêineres, Bertinetti espera que o Tecon Rio Grande tenha um desempenho superior neste ano em relação a 2020 (quando foram movimentados 404.721 contêineres ou 675.227 TEUs). Ele justifica seu otimismo argumentando que o impacto da pandemia de Covid-19 no ano passado foi mais severo, sendo uma experiência que nunca tinha sido vivida e que acabou cancelando várias escalas de embarcações em Rio Grande.
Sobre o cenário local de escassez de contêineres, em nota, o grupo Maersk, um dos maiores operadores mundiais quanto à logística dessas unidades, afirma que “o atual reabastecimento nos Estados Unidos e na Europa aumenta a demanda, enquanto as medidas globais para conter a pandemia causam grande pressão na cadeia de abastecimento, devido à falta de navios e capacidade de contêineres, bem como à redução significativa da produtividade nos portos, armazéns e terminais internos”. Além disso, o comunicado cita que o incidente no Canal de Suez (em março um navio encalhou, por seis dias, nessa que é uma das principais rotas da navegação mundial) também prolongou os atrasos e congestionamentos na maioria das localidades devido ao acúmulo de carga.
Fonte: Jornal do Comércio
Créditos da Imagem: Tecon/Divulgação