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Líderes na geração de emprego com carteira assinada no RS em maio, comércio e serviços ensaiam nova retomada
14/07/2021

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Líderes na geração de emprego com carteira assinada no RS em maio, comércio e serviços ensaiam nova retomada

Dois dos setores mais afetados pelas restrições impostas no combate à pandemia de coronavírus, serviços e comércio ensaiam nova retomada no Rio Grande do Sul. Um dos indicadores que demonstra essa busca por tração na recuperação ocorre no âmbito do emprego. Após tombo em abril, esses dois segmentos lideraram a abertura de vagas com carteira assinada no Estado em maio, somando 7.986 postos. O montante é maior do que o saldo geral (7.458) no Estado no período, que leva em conta outros quatro setores da economia. Os números fazem parte do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia.
A maior abertura das atividades e o avanço na vacinação estão entre os fatores que ajudam a explicar esse início de recuperação, segundo especialistas.

Serviços e comércio registraram resultados positivos na geração de emprego no Estado no primeiro trimestre, mas sempre na sombra da indústria, que puxou com folga a criação de vagas com carteira assinada. Em abril, todos os setores recuaram nas admissões após os efeitos da segunda onda da crise sanitária. No mês seguinte, o Estado voltou a contratar com mais fôlego, impulsionado pelo reaquecimento em serviços e comércio (veja mais abaixo).
O professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS Marcelo Portugal avalia que o protagonismo de serviços e comércio é normal nesse momento. O economista destaca que a produção da indústria tende a estabilizar após salto maior no início da recuperação da economia com a recomposição de estoques. No caminho contrário, setores que dependem da circulação maior de pessoas começam a ganhar mais espaço com as flexibilizações e o avanço de pessoas imunizadas, segundo o professor.

— É um fenômeno geral, não só do Rio Grande do Sul, que está associado a essa maior abertura da economia por parte do governo e a um menor medo das pessoas de circularem. Também tem o fato desses setores, principalmente o de serviços, ser intensivo em trabalho. Qualquer hora a mais de funcionamento obriga o empresário a contratar mais gente para atender ao cliente — observa Portugal.

A economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo, afirma que os números reforçam o movimento de retomada observado nesses setores. Dentro dessa evolução, a economista destaca a distribuição de contratações entre os subsetores.

— Um fato interessante é que essas vagas estão espalhadas por vários segmentos. Não estão concentrados em apenas uma coisa só. Por exemplo, o comércio varejista de vestuário, que sofreu muito, contratou 426 pessoas. É parecido com o número de pessoas contratadas por hiper e supermercados — destaca Patrícia.

Patrícia afirma que a chegada do frio, o Dia das Mães e o preço mais elevado das roupas de inverno ajudam a explicar o bom desempenho no setor de vestuário no Estado. No âmbito dos hiper e supermercados, a economista-chefe destaca o volume maior na abertura de lojas e nas compras de itens de uso em casa por parte das famílias.

O haitiano Elinor Fortune, 50 anos, é um dos trabalhadores que conseguiu emprego com carteira assinada no Estado em maio. Morador do bairro Porto Seco, na zona norte de Porto Alegre, Fortune foi contratado como açougueiro pela rede de supermercados Anuar Pezzi, na Capital. Antes da recolocação no mercado de trabalho formal, Fortune, que mora há cerca de 10 anos no país e tem esposa e quatro filhos, ficou quase dois anos realizando diversos serviços, como motorista de aplicativo e na área de informática. Ele comemora o novo emprego, que traz mais benefícios e seguranças para o orçamento da família em meio à pandemia.

— Um amigo me indicou para a vaga. Agora, estou trabalhando com carteira assinada. Com a pandemia, a gente fica desesperado, mas Deus está trabalhando na vida da gente. Por isso, consegui essa vaga aqui. (...) Estou feliz trabalhando aqui. E acredito que meus colegas também — comemora Fortune.

Inflação preocupa em meio à retomada
O economista-chefe da Fiergs, André Nunes de Nunes, afirma que a estabilização na geração de vagas na indústria em maio é sazonal. A dinâmica de contratar mais no início do ano e dispensar nos meses seguintes em alguns segmentos, como o da indústria de alimentos, impacta nesse ritmo menor, segundo o economista. O preço e a falta de algumas matérias-primas ainda afetam o setor, mas a expectativa é de melhora nesse ponto nos próximos meses, segundo Nunes. No âmbito geral, o especialista estima a continuidade de números positivos na geração de emprego na indústria, mas em patamares menores na comparação com o setor de serviços.

— Quando a gente soma, a indústria representa cerca de 20% do PIB do Estado. Mais de 60% é comércio e serviços. Então, evidentemente, a gente vai ter uma preponderância de geração de empregos nesses setores — pontua o economista-chefe da Fiergs.

A economista-chefe Fecomércio-RS, Patrícia Palermo, estima que a recuperação de comércio e serviços deve seguir avançando de acordo com o ritmo de imunização contra a covid-19 no país. No entanto, a especialista destaca que o crescimento da inflação coloca um asterisco nesse processo.
— O aumento de preços tem sido capitaneado por itens que as pessoas têm dificuldade muito grande em reduzir o consumo. Estamos falando de alimentos, combustíveis, energia elétrica, gás de cozinha. Se meu orçamento fica apertado por esses itens, onde eu vou reduzir consumo? Nas outras coisas, que já são fortemente afetadas pela crise — destaca a economista-chefe da Fecomércio.

Também destacando o possível impacto negativo da inflação, o professor da UFRGS Marcelo Portugal estima que a retomada com mais fôlego de serviços e comércio deve seguir no segundo semestre. O especialista destaca que muitos segmentos ainda têm espaço para recuperação:

— Ainda tem muitos pedaços dos setores, principalmente dos serviços, que não voltaram ainda. Toda a parte de eventos, de festas, formaturas, ainda não voltou. Tem um pedaço grande para voltar.

Fonte: Zero Hora

Créditos da imagem: Simplypag