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Exportação gaúcha de aves tem queda de 25%
29/03/2019
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Embargos da União Europeia, sobretaxa chinesa ao frango brasileiro e a greve dos caminhoneiros impactaram duramente as exportações da avicultura gaúcha. A queda de 25% no volume embarcado para outros países em 2018, quando vendeu ao exterior 554 mil toneladas, só não é drástica porque as exportações representam apenas cerca de 6% do total produzido no Estado. Ainda assim, o presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), Nestor Freiberger, afirma que demissões estão no horizonte das indústrias.
"Fomos bem mais afetados nas exportações do que a média nacional (que caiu 5,1%) porque parte das mais de 20 plantas que foram impedidas de exportar para a União Europeia fica no Estado, como da BRF em Marau e em Serafina Corrêa, onde quase 100% da produção é para exportação", explica Freiberger.
Os desafios para 2019, diz o executivo, já estão colocados: plantas desabilitadas a exportar para Arábia Saudita, guerras comerciais e protecionismo em diferentes países. E muitas empresas já começaram a fazer adequações (o que pode incluir demissões), mas o problema, diz o executivo, são as incertezas sobre para que lado caminhar. Há dúvidas, por exemplo, quanto aos mercados árabes.
A primeira delas é por fatores políticos brasileiros, como possíveis retaliações caso o presidente Jair Bolsonaro leve adiante a ideia de transferir para Jerusalém a embaixada do Brasil. A isso, diz Freiberg, se soma a intenção árabe de preservar a produção interna (mesmo produzindo frango com custo maior) e valorizar a segurança alimentar.
"Todo dia são dadas declarações por parte do governo federal, como de mudar embaixadas, e outras questões que não são boas. O ideal para aumentar as exportações é simplesmente que os governantes não façam trapalhadas e falem menos. O ideal é que não falem nada", reflete Freiberg.
No caso da China, apesar da necessidade de consumo ser grande e de não haver restrições sanitárias, houve queda nas vendas em 2018 em alguns meses, decorrentes da tarifa antidumping, ainda em vigor. E o executivo lembra que uma recente missão chinesa no Estado acabou sem habilitar nenhuma nova planta, no final de 2018. Mas há expectativa de que, com a redução no rebanho de suínos devido a peste africana, aumente a demanda por frango. Outra boa perspectiva internacional pode ser o fim da cota para venda de aves brasileiras ao México.
"O muro que se quer construir entre Estados Unidos e México pode nos ajudar. O México tem alto consumo de frango, parte abastecida pelos Estados Unidos e com alta incidência de doenças em sua produção local. Ou seja, precisam importar e não conseguem exportar", destaca o presidente da Asgav.
O que aumentou significativamente para o México em 2018 foi a exportação de ovo fértil (que será usado para gerar futuras aves), por exemplo. As exportações de ovos, em geral e para consumo humano, aumentaram em 60%, especialmente para países de África, Oriente Médio e até o Japão.
"Mas as vendas de ovos são muito sazonais, não há uma regra. No ano passado houve um aumento incomum, que no Brasil como um todo chegou a 90%", diz Freiberger.
Empresas fazem compra futura de milho para atender plantel e estudos para uso de trigo na ração
Com um déficit de cerca de 2 milhões de toneladas de milho anuais para alimentar o imenso plantel gaúcho de aves, o setor tem como desafio estimular a produção de milho (que perde espaço para a soja). No Estado são abatidas, em média, 66 milhões de aves por mês. Entre as estratégias para fomentar o cereal, por exemplo, há empresas fazendo compra antecipada, como ocorre com a soja, no chamado mercado futuro. "Uma das nossas associadas, por exemplo, já tem milho comprado até agosto. A compra futura é uma forma de estimular o plantio, porque o produtor sabe que terá para quem vender e a que preço." A Asgav tem conversado com produtores para encontrar a melhor forma de fomentar a produção destinada aos aviários. Entre as alternativas está o uso do trigo para alimentação de aves, abrindo mercado para a triticultura, atividade que tem dificuldade de vendas no mercado interno, já que pouco produz a qualidade destinada ao consumo humano.
Fonte: Jornal do Comércio - Por Thiago Copetti
Créditos da Imagem: AFP/JC