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Riscos de racionamento penalizam a retomada da atividade
05/07/2021
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Quando realizamos nossos exercícios de projeção para o crescimento da atividade econômica, uma variável que se ajusta muito bem para antecipar os movimentos do PIB da indústria é o consumo de energia elétrica. Como mostra o gráfico ao lado, fica claro enxergar que quando o consumo de energia da indústria brasileira cai, o PIB também cai, o que faz sentido, pois espera-se que a produtividade industrial aumente a partir de um aumento da utilização dos seus recursos disponíveis.
A respeito desta relação, destacamos a atual situação crítica dos níveis dos reservatórios das hidrelétricas no Brasil, que tiveram forte queda ao longo do ano e terminaram o mês de maio com 42,2% da capacidade do sistema, bem abaixo da média histórica para o mês desde 2009 (59,6%) e, inclusive, próximo aos níveis registrados em 2014, ano de racionamento de consumo de água, e 2001, ano do “apagão’.
Ainda que a realidade do sistema hoje seja mais diversificada e mais integrada do que a 20 anos atrás, a matriz de geração de energia elétrica brasileira ainda é muito dependente da geração de energia hidráulica, corresponde a 70% do total, enquanto que as fontes de geração de energia térmica, eólica, termonuclear e solar correspondem a 17,4%, 9,2%, 2,7% e 0,8%, respectivamente.
De fato, a forte queda dos níveis dos reservatórios observada nos últimos meses pode ser explicada, principalmente, pelo baixo regime de chuvas no final do ano passado (La Niña) e começo deste ano em locais críticos – Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná - deslocando os níveis dos reservatórios na região Sudeste para 32% (que responde por 70% do sistema).
Além disso, outro ingrediente responsável por essa redução foi o aumento da demanda de eletricidade no Brasil na esteira da retomada da atividade econômica. O consumo, que já superou no acumulado do ano até abril os níveis pré-pandemia (2019), atingiu 67 gigawatts (GW), ante 60 GW em 2020.
Ao se combinar esse pano de fundo de retomada da economia com a possibilidade de que as chuvas voltem a decepcionar, poderia se chegar em novembro, se caso nenhuma medida alternativa fosse tomada, a níveis de reservatórios próximos a 10%, o que deflagraria o racionamento de energia no País.
No entanto, o atual risco de racionamento é consideravelmente baixo para os próximos 12 meses, pois há capacidade térmica suficiente para ser utilizada e evitar medidas mais dramáticas. Em virtude disso, desde o início de junho, o Governo Federal autorizou o acionamento ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para geração de até 18.090 MW médios, superando em muito as cargas autorizadas no mesmo período em 2013 (10.217 MWmed) e em 2012 (8.176 MWmed). Dessa maneira, em caso de acionamento das térmicas sob os mesmos ritmos de 2014, de 15.500 MWmed, e considerando um regime de chuvas na média histórica de agosto até final de outubro, o nível dos reservatórios do sistema podem alcançar 24,1% em novembro, quando se inicia a próxima temporada de chuvas.
Como resultado, as tarifas da conta de luz foram reajustadas em junho para o patamar mais alto do sistema e, no final do mês passado, a ANEEL decidiu ajustar a tarifa da bandeira vermelha patamar 2 de R$ 6,24 para R$ 9,49 a cada 100 kWh a partir de julho, que deve se manter até dezembro. Inevitavelmente, esse aumento de custos intermediários acaba por penalizar a indústria, que se defrontará com o dilema de escolher entre aumentar preços para recuperar margens ou reduzir a produção num momento tão desafiador para a nossa economia, prejudicando as expectativas para crescimento (mais baixo) e inflação (mais alta).
Fonte: FIERGS