Asgav Notícias

Setor avícola avalia impacto do foco de Newcastle sobre as exportações
22/07/2024

voltar
1_newcastle_abpa_asgav-10665681

Um dia depois de o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmar a presença de um foco da doença de Newcastle em um aviário comercial no município de Anta Gorda, no Vale do Taquari, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) traçaram uma previsão do impacto do caso sobre as exportações do setor.

Conforme as entidades, ainda é cedo para apontar um cenário definitivo, mas a tendência é de acomodação dos mercados, a partir das negociações bilaterais entre o governo federal e os cerca de 150 países que compram produtos avícolas do Brasil.

Conforme prevê a Organização Mundial de Saúde Animal (Omsa), o País suspendeu os embarques para o mercado externo e está comunicando diretamente cada um dos seus clientes para tratar sobre a delimitação da área onde os bloqueios comerciais serão estabelecidos. A situação varia, conforme decisão de cada parceiro comercial, esclareceu o presidente da ABPA, Ricardo Santin em concorrida coletiva de imprensa na tarde desta sexta-feira (19).

Alguns países, como China, Argentina e a União Europeia, impuseram a interrupção das exportações de produtos avícolas de todo o Brasil. Já o Japão definiu que seguirá comprando do Brasil, desde que os cortes de aves sejam oriundos de estabelecimentos distantes pelo menos 50 quilômetros do foco, enquanto a Arábia Saudita embargou todo o Rio Grande do Sul.

"O cliente é soberano, e nós respeitamos. Nosso papel é ser transparente e agir com agilidade para garantir a eliminação da doença e comprovar a biosseguridade do nosso sistema produtivo, bem como a sanidade dos produtos que chegam ao mercado", observou o dirigente.

Conforme a ABPA, o Brasil, que detém 37% do mercado desse segmento no mundo, produz 1,2 milhão de toneladas de cortes de frango por mês. Desse total, 430 mil toneladas seguem para diferentes destinos. No pior cenário projetado, caso todos os países com acordos de suspensão total das importações decidissem manter o status atual, o impacto seria de aproximadamente 60 mil toneladas. O Rio Grande do Sul, que representa cerca de 15% da produção nacional, produz 160 mil toneladas mensais, das quais 59 mil toneladas são para o mercado externo. E deixaria de exportar em torno de 12 mil toneladas mensais.

Mas esse quadro não deverá se confirmar. Santin explicou que muitos produtos deverão encontrar novos destinos ou mesmo serão absorvidos no mercado interno. "Boa parte do que exportamos são pés e patas de frango. E o que não for vendido para a China pode, por exemplo, ir para o Vietnã. Igualmente, a carne de frango pode ser comercializada para países que não tenham o mesmo protocolo de restrição, tanto para o Brasil quanto para o Rio Grande do Sul ou mesmo o entorno do foco da doença. Só saberemos o tamanho do impacto econômico em creca de 30 dias, quando a situação comercial estiver consolidada".

Em Anta Gorda, embora 7 mil aves de uma mesma granja tenham morrido em curto espaço de tempo, as outras 7 mil que estavam no mesmo aviário sequer apresentaram sinais clínicos ou sintomas da doença. E nos 12 testes realizados com amostras obtidas naquele plantel, apenas um teve resultado positivo para Newcastle. Mesmo assim, todos os animais que restaram foram mortos e enterrados, de acordo com os protocolos da Omsa.

O presidente da Asgav, José Eduardo dos Santos, reafirmou que as mortes podem ter sido causadas pelo frio intenso que atingiu a região no começo de julho. O local foi atingido por granizo, que provocou a quebra de parte do telhado. É por ali que os técnicos acreditam possa ter entrado o vírus, identificado por sequenciamento genético como oriundo de um pombo.

"Imediatamente, demos início à adoção de todas as medidas para isolar o local, colher amostras e encaminhar para análise laboratorial. os órgãos oficiais foram alertados e definidos um raio de contenção de três quilômetros e um de monitoramento, de 10 quilômetros. os parceiros foram avisados imediatamente. Estamos mostrando a seriedade do trabalho e tranquilizando a população e os mercados quanto à segurança do consumo dos nossos produtos", observou.

As autoridades e o setor privado garantem que o consumo humano de produtos eventualmente infectados não oferece qualquer risco à saúde. Mas se antecipam a assegurar que o sistema é tão eficiente, que nenhum corte fora do padrão sanitário chega ao mercado.

Mapa declara estado de emergência zoossanitária no Rio Grande do Sul

Também nesta sexta-feira, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) publicou Portaria que declara estado de emergência zoossanitária no Estado do Rio Grande do Sul por conta do ressurgimento da doença no Estado após 18 anos. A medida vale por 90 dias. A declaração de emergência prevê uma vigilância epidemiológica de forma mais ágil, com a aplicação dos procedimentos de erradicação do foco estabelecidos no Plano de Contingência de Influenza Aviária e doença de Newcastle.

Entre as ações previstas no plano estão o sacrifício ou abate de todas as aves onde o foco foi confirmado, limpeza e desinfecção do local, adoção de medidas de biosseguridade, demarcação de zonas de proteção e vigilância em todas as propriedades existentes no raio de 10km, definição de barreiras sanitárias, entre outras.

Com objetivo de reforçar as ações de enfrentamento à situações de emergência fitossanitária ou zoossanitária, o Mapa elaborou um Projeto de Lei (PL), já aprovado pela Casa Civil e que se encontra em análise pelo Congresso Nacional. Caso aprovado, entre outros objetivos, a nova lei permitirá o acionamento de todo o sistema governamental - União, Estados e Municípios - para atuarem em operações de defesa agropecuária convocadas pelo Ministério, de forma mais ágil e tempestiva.

A enfermidade

A doença de Newcastle (DNC) é uma enfermidade viral que afeta aves domésticas e silvestres, causando sinais respiratórios, frequentemente seguidos por manifestações nervosas, diarreia e edema da cabeça nestes animais. De notificação obrigatória a OMSA, ela é causada pela infecção por vírus pertencente ao grupo paramixovírus aviário sorotipo 1 (APMV-1), virulento em aves de produção comercial. Os últimos casos confirmados no Brasil ocorreram em 2006 e em aves de subsistência, nos estados do Amazonas, Mato Grosso e Rio Grande do Sul.

Fonte: Jornal do Comércio
Créditos da Imagem: CLAUDIO MEDAGLIA/ESPECIAL/JC